terça-feira, 27 de abril de 2010

Manoel Carlos - Vida Real e Ficção

Em Viver a Vida, sua décima primeira novela, Manoel Carlos tem estampada sua marca: As telenovelas de intervenção, levando sempre em conta a relação humana, a alma feminina e o cotidiano, para isso, ele utiliza os depoimentos de anônimos que passaram por dificuldades, e para as pessoas que por ventura estejam passando por problemas iguais ou parecidos, as utilizarem como exemplo de superação. A área médica, batizada de cuidados paliativos, o alcoolismo, a superação de Luciana ao se tornar tetraplégica, são temas recorrentes da novela, baseados em fatos reais, e depoimentos dados por anônimos.
Um exemplo de superação, entre tantos depoimentos dados por pessoas anônimas em novelas de Manoel Carlos, é Leandra Migotto, seu depoimento foi dado a novela numa terça-feira 9 de fevereiro de 2010.Portadora de osteogêneses imperfeita, conhecida como “ossos de vidro” ou “ossos de cristal”, em seu depoimento, ela relata as dificuldades enfrentadas ao longo da vida. Mesmo diante de tantos problemas ela, nunca desistiu de sua felicidade e sempre pode contar com o apoio de família e amigos para superar barreiras. Apesar da deficiência Leandra, ganhou medalhas com o esporte, viajou sozinha para o Peru, carregou muita mochila e subiu muita escada para se formar em jornalismo. Como jornalista já ganhou dois prêmios: um na Colômbia e outro no Peru. Leandra adora escrever, mas também batalha pelos Direitos Humanos das Pessoas com Deficiência. Já fez fotos sensuais, coordena um projeto sobre a sexualidade das pessoas com deficiência e se prepara para casar. Essa é só mais uma história da vida real levada ao público, dentre tantas abordadas por Maneco, este homem que através de suas telenovelas expõe ao público a vida privada, fazendo com que as pessoas que as assistem, encontrem nesses depoimentos maneira de superar suas dificuldades.

Raphael Fagundes também é um desses exemplos. Deu seu depoimento para a novela Viver a Vida em 12 de março de 2010. Vitima de paralisia cerebral, seu diagnostico era viver numa cadeira de rodas para sempre, mas sua família não desistiu, e, aos cinco anos de idade fez a primeira cirurgia, contrariando todas as expectativas médicas. De lá para cá só vitórias. Em agosto de 1993 conseguiu dar os primeiros passos. Sua trajetória de vida não tem sido fácil, o jovem lutador diz que é uma batalha a cada dia e que as vence com destreza de um campeão. Mais nem sempre foi assim, segundo depoimento dado para a novela, Rafhael não se interessava por nada, não queria fazer nada, até que seus amigos o chamaram para fazer uma caminhada no mato e, Rafinha como é chamado pelos amigos aceitou. Foi daí que surgiu o seu interesse pelo esporte e nunca mais desistiu de seus sonhos.

Hoje Raphael é atleta, estudante de direito, e procura viver a vida da forma mais natural possível dentro de suas limitações, suas vitórias são comemoradas entre lagrimas, “já chorei muito a cada obstáculo vencido, faço coisas que não imaginaria que pudesse, até ficar de pé sobre uma prancha.” Como esportista já viajou com a seleção brasileira e têm planos dentro do esporte.

Raphael vê como positiva a maneira que o autor de telenovelas Manoel Carlos, trata as questões sociais de forma mais humanizadas, levantando problemas que podem ajudar outras pessoas. “No meu caso, foi muito positivo ter contado minha historia, tanto para mim quanto para outras pessoas, muita gente que estão passando por problemas parecidos com o meu, estão mais esperançosas, inclusive uma senhora que assistiu meu depoimento tem um filho com o mesmo problema e está mais otimista em relação a recuperação de seu filho, e isso para mim é muito bom,de certa forma estou ajudando alguém. As abordagens estão sendo perfeitas, mas na minha opinião não é a realidade da sociedade brasileira, digamos assim. Acredito que para a sociedade o recado foi dado da seguinte forma: deficiente também é eficiente, a pessoa pode estar sentada na cadeira, mas a sua cabeça continua funcionando da mesma forma, a pessoa tem sonhos, metas,... enfim tem vontade de viver. Não desistam de viver, a vida é dura, curta e incerta. Com certeza DEUS permitiu que eu ficasse assim para que outras pessoas pudessem olhar pra mim e ter esperança de viver e não desistir da vida. De todo coração, desejo que cada pessoa que esta na mesma ou numa situação parecida com a minha, viva a vida, ainda tem muita gente boa no mundo que vai nos estender a mão e nos ajudar a prosseguir na vida”.

Monica Torres é uma jovem de 26 anos, estudante de pedagogia que ficou tetraplégica aos 18 anos vitima de um acidente automobilístico. Sua vida se interromperia naquele momento, pois segundo ela não havia a menor chance de recuperação, não só pela gravidade do acidente, mas, também por não ter condições financeiras para arcar com as despesas. Durante muito tempo Mônica deixou de viver, não acreditava que fosse possível ser feliz outra vez, sentia pena de se mesma, o mundo La fora não existia, só ela e sua cadeira de rodas que a condenaria para sempre a um mundinho restrito, onde o mais longe que a levaria era o quintal de sua
própria casa quando sua mãe a conduzia.                   

Foi assistindo os depoimentos da novela Viver a Vida que decidir mudar de vida,” vi que existem pessoas passando por situações piores que a minha, e que estavam lutando, outras que venceram e não seria justo nem comigo, nem com a minha mãe, que é quem mais sofre com a minha situação, desabafa”. Hoje Mônica tem outra concepção da vida, está fazendo tratamento de fisioterapia na faculdade onde estuda, quer se formar, casar e quem sabe ter filhos, mesmo que adotados.

“Esses depoimentos sem dúvida são muito importantes para muitas pessoas por aí, que como eu preciso de uma forcinha para sair do buraco. Gostaria muito de ter a minha história levada ao ar mais não gosto de aparecer em público, e essa é mais uma barreira que vou ter que vencer. A minha condição de cadeirante, não irá me impedir de ser feliz, de conhecer o mundo e de viver”, diz Mônica.



 
 
 
 



Manoel Carlos ao lado de Thaís Araújo, Aline Moraes e Lília Cabral.
 
 
Por: Ozilene Barbosa