
Sinto-me constrangida logo pela manhã, ao entrar em uma lotação, ainda sonolenta e sem maquiagem, e observar um desenho de uma carinha amarela com a seguinte frase ao lado: "Sorria, você está sendo filmado". Sinceramente, não sei se dou um sorriso amarelo ou mostro a língua para quem está me observando atrás das lentes da câmera.
Ao chegar à estação do metrô, mais câmeras espalhadas seguindo todos os meus passos. Penso: "Será que estão reparando nas minhas roupas ou nos meus cabelos"? A verdade é que fico sem saber como agir e acabo ficando sem graça ao ver a minha imagem exposta na telinha que fica na plataforma.
Depois de tantos apertos, empurrões e câmeras, finalmente chego ao escritório, e novamente: "Sorria, você está sendo filmado". Como vou sorrir depois de tanta correria que enfrentei até chegar ali? Meu chefe me observará durante todo o expediente, às vezes sinto vontade de mandar um tchauzinho para ele...
Ainda na empresa, quando preciso usar o banheiro, tem que ser com as luzes apagadas, pois o piso é branco e espelhado, quando a luz está acesa quem está de fora consegue ver a minha imagem refletida no chão, por isso só dá para se aliviar no escuro...

Isso tudo acontece não só no ambiente de trabalho, mas também quando vou ao shopping, ao restaurante, ao cinema etc. A única diferença entre os participantes de um programa confinados em alguma super casa sem fazer nada o dia inteiro e eu é que eles podem sair da frente das câmeras e se tornarem milionários, ou apenas ganhar um carro, uma viagem ou um apartamento... E eu? A mim ninguém pede autorização para participar do Big Brother do dia-a-dia, e ainda tenho que sorrir cada vez que leio a frase que me persegue sem ganhar nenhum trocadinho.
Por: Camila Migliorini